segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Detran vai experimentar novo modelo de faixa de pedestres

Detran vai experimentar novo modelo de faixa de pedestres
Correio Braziliense
Técnicos farão uma pintura em forma de zigue-zague e colocarão mais placas de sinalização
Helena Mader
     Quase 15 anos depois do lançamento da campanha Paz no Trânsito, que transformou Brasília na capital do respeito ao pedestre, a cidade será mais uma vez pioneira no assunto. O Conselho Nacional de Trânsito (Contran) autorizou o Governo do Distrito Federal a construir de forma experimental um novo modelo de faixa. O ponto de travessia tem pintura diferenciada, novo sistema de visualização e de sinalização. Com as alterações, o Departamento de Trânsito do DF espera reduzir o número de atropelamentos. No ano passado, 12 pessoas morreram sobre as faixas — o maior número desde 1997.
     Os cinco primeiros pontos a receber a novidade ficam no centro da cidade, no Sudoeste e em Taguatinga. Os técnicos do Detran começam a fazer as alterações a partir desta segunda-feira. Se o trabalho trouxer bons resultados, o governo federal poderá até alterar o Código Brasileiro de Trânsito para tornar obrigatórios os novos itens de segurança. Depois do teste, o novo modelo de faixa também deve ser levado a outros pontos do Distrito Federal.
     As travessias experimentais têm pintura diferenciada, que começa 16 metros antes da faixa. A demarcação sobre o asfalto será feita em zigue-zague, ao contrário das pinturas retas de hoje. A essa mesma distância, será instalada uma placa de sinalização que alerta para a proibição de parar e estacionar na área da travessia. Ao lado da faixa, uma outra placa, desta vez amarela, vai indicar aos motoristas que ali começa a área de travessia.
     O diretor-geral do Detran-DF, Francisco Araújo Saraiva, explica que o objetivo do projeto é melhorar a visibilidade. “Queremos ajudar o condutor a ver as faixas. Grande parte dos acidentes acontece porque os motoristas não perceberam a presença do pedestre”, justifica o diretor do órgão. “A nova engenharia, com a pintura em ziguezague, vai funcionar como um alerta para a proximidade do ponto de travessia. Assim, o condutor automaticamente vai reduzir a velocidade”, acrescenta.
     Outra novidade do projeto é a delimitação de uma área às margens das faixas, que será pintada de vermelho sobre o pavimento. O local terá quatro metros de comprimento e a largura será variável, de acordo com a calçada existente. Com isso, o Detran quer evitar casos em que os pedestres estão caminhando próximo à faixa, mas não querem atravessar, confundindo os motoristas. Cada faixa repaginada vai custar cerca de R$ 5 mil. O custo maior é a para a colocação de tachões de led, visíveis a longa distância. Com a futura expansão da tecnologia para todas as 4 mil travessias do DF, esse valor deve baixar muito.
     Para o diretor-geral do Detran, essa é mais uma medida para reduzir os riscos de acidentes fatais envolvendo quem anda a pé. “Com a mudança, a ideia é que o pedestre só pise nessa área vermelha se de fato quiser atravessar a rua”, diz Francisco Saraiva. Ainda assim, a orientação é que o pedestre dê sinal, balançando o braço antes de passar e aguardando a parada completa de todos os veículos antes de começar a travessia.


Campanha 
     A primeira faixa no novo modelo será pintada entre os setores Hoteleiro e Comercial Sul, ao lado do Hotel Bonaparte. No local, é comum ver condutores ignorarem as pessoas que querem cruzar a rua. Com a mudança de engenharia, o Detran também quer retomar a campanha de respeito aos pedestres e às faixas. “Fizemos um levantamento nessa primeira faixa que mostra que, em 72% dos casos, o primeiro ou no máximo o segundo motorista para quando o pedestre faz o sinal. Mas queremos que esse número chegue a 100%, para reduzirmos ao máximo os riscos de atropelamento”, justifica a diretora de Estatística do Detran-DF, Rita Speziale.
     Logo depois da faixa vizinha ao Setor Hoteleiro, o Departamento de Trânsito fará mudanças também na travessia em frente ao Hemocentro de Brasília, que fica na via N3, no início da Asa Norte. A 1ª Avenida do Sudoeste também receberá uma faixa experimental, na altura da CLSW 302. Em frente à sede do Detran, na Via Epaa, haverá a construção da quarta travessia. Por último, as equipes de engenharia vão trabalhar na Rodovia DF-001, na altura do Pistão Norte. Nesse último caso, as ações serão feitas em parceria com o Departamento de Estradas de Rodagem, já que se trata de uma pista sob a jurisdição do DER.
Estatística      De janeiro a outubro deste ano, 364 pessoas perderam a vida nas ruas da capital e, dessas, 124 foram atropeladas, o que equivale a quase 35% das vítimas. Agosto de 2010 foi o mês mais violento dos últimos seis anos, com 53 acidentes fatais e 55 mortes no trânsito.
APROVAÇÃO DE QUEM ANDA A PÉ      Os pedestres aprovaram as mudanças e esperam que as intervenções tornem as travessias ainda mais seguras. O bancário Ubiratan Matos, 53 anos, trabalha no Setor Comercial Sul, próximo ao local da primeira faixa experimental. Ele conta que, muitas vezes, os motoristas ignoram as pessoas que querem atravessar a rua. “A maioria respeita, mas alguns aceleram e quase passam por cima da gente”, reclama o bancário. “Acho que qualquer mudança é bem-vinda, caso seja para aumentar a segurança”, acrescenta.
     A operadora de telemarketing Bianca Brito dos Santos, 20 anos, tem a mesma opinião. “Eu só passo na faixa quando vejo que todos os carros já pararam. Uma vez, quase fui atropelada porque já estava atravessando a rua e, de repente, veio um motorista a toda velocidade que não conseguiu parar”, relembra Bianca.
     O diretor de Educação do Detran, Silvaim Fonseca, diz que uma das medidas mais importantes da nova faixa é a colocação de sinais alertando para a proibição de parar e estacionar. Isso porque muitos motoristas aproveitam a travessia para fazer embarque ou desembarque de passageiros. “Isso confunde os condutores. Às vezes, acontece de o motorista achar que o carro da frente parou só para o desembarque de pessoas e não parar, causando atropelamentos”, explica Fonseca. O governo vai fiscalizar com rigor e multar todos os veículos que estiverem estacionados ou parados, mesmo que momentaneamente, na área das faixas.
     Fonseca também se lembra de outra estatística importante, que pode ser reduzida com a implantação das novas faixas. “Cerca de 70% dos atropelamentos sobre as faixas foram causados quando já havia um carro parado”, acrescenta
Relatório      A cada 90 dias, o Detran terá que enviar um relatório ao Departamento Nacional de Trânsito, com detalhes sobre a implantação das novas faixas. É com base nessas informações que o governo federal vai decidir se as formas de pintura sobre o asfalto são de fato eficazes para a redução dos atropelamentos fatais para, então, expandir a iniciativa para todo o Brasil.
     Para o engenheiro José Eduardo Daros, presidente da Associação Brasileira de Pedestres, qualquer iniciativa para aumentar a segurança das travessias e reduzir os riscos de acidente é positiva. Mas ele lembra que o Código Brasileiro de Trânsito já tem vários instrumentos, que muitas vezes não são aplicados. “Ser pedestre é uma condição do ser humano. Mas há uma ausência muito séria de cidadania”, critica o especialista. “Outra medida importante em Brasília seria a redução da velocidade em vias arteriais. Isso reduz as chances de acidente e, em caso de atropelamento, diminui a gravidade das lesões”, acrescenta Daros. (HM)

Nenhum comentário:

Postar um comentário